O governador Cid Gomes caprichou. Para cumprir uma das principais promessas de campanha, escolheu a camionete Hilux 4X4, motor 3.0, direção hidráulica, ar-condicionado, câmbio automático e equipou com câmeras, computador de bordo, GPRS (transmissor de dados via celular). Foram R$ 50 milhões para botar o projeto Ronda do Quarteirão nas ruas, em novembro de 2007. Distante do Palácio Iracema, acolá, na beira do rio Maranguapinho, o ex-agricultor Cícero Clarindo dos Santos, 46, também se esmera, com um pedaço de flandres e uma caixa de tintas. Viu a Hilux passando na rua Santa Maria, “tiramo o molde”. O Ronda de lata, feito pelo artesão e inspirado na viatura-Hilux, sai a R$ 5 para revenda no Centro da cidade. Não tem computador de bordo, apenas o porta-malas se abre para conduzir o Ben 10 “preso”. Tudo o mais fica por conta da imaginação de Paulino Neto, 2, que, feliz da vida, sentou na calçada da rua 24 de Maio para brincar com o carrinho do Ronda. Inventou o recreio ao meio-dia, sorria para a foto abraçado com a mini-viatura. “O pai vai passando com os meninos, eles vêem o carro e aperreiam: ‘Pai, quero comprar o Ronda!’”, relata o comerciante Manuel Gentil Eiras. A réplica é procurada “desde quando surgiu o projeto”. Um dia, os artesãos dos tradicionais caminhões de madeira chegaram lá com os Ronda de flandres - que, ligeiro, tomaram a frente nas vendas. “Antes, era os da PM e esses ônibus da Guanabara. Agora, só dá o Ronda!”, contabiliza o comerciante João Alberto Ires.
Uma recente pesquisa do O POVO/Datafolha, realizada com 816 pessoas, revelou 72% de aprovação em relação ao programa Ronda do Quarteirão; 5% avaliam-no como ruim/péssimo. O motorista desempregado Alexandre Gomes, pai do pequeno Paulino, é um dos que consideram o programa bom. “A gente se sente mais seguro”, afirma, embora o Ronda ainda não tenha chegado a Pacatuba, a 30 quilômetros de Fortaleza, onde Alexandre mora. Por enquanto, o Ronda é esta história que o pai conta ao filho: “A gente fala de polícia e de segurança. Quando ele vê o Ronda na televisão, dá um grito medonho (de alegria, segundo interpreta o pai)! Eu digo: ‘Isso aí é pra proteger nós, filho’”. De modo que Paulino não tem medo da polícia.
Nem Maria Madalena Ferreira dos Santos, mulher de seu Cícero-artesão e moradora do Bom Jardim. “Acho eles (policiais do Ronda) educados e gentis. O povo chama, e eles só conversa, dá conselho”. Por isso, gosta de ver a viatura passar na rua. “Eu adoro, é lindo!”. E tanto faz ser a Hilux 4X4 quanto os carros de lata que o filho, Francisco, aprendeu, no capricho, com o pai. “Todos dois, acho bonito. Meu filho faz muito bem feito. É mesmo que tá vendo o Ronda... Mas o outro é melhor porque a gente anda montado de verdade!”.
"As réplicas em flandres dos carros do Ronda do Quarteirão podem ser encontradas nos mercados Central e São Sebastião e na rua Castro e Silva, no quarteirão para onde foram os comerciantes do velho Mercado Central. Custam R$ 8,00. Os vendedores garantem que não há perigo para as crianças, apesar de ser feitas com lata."
fonte: Jornal O POVO
publicado em: 22 Set 08




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